CLAREZA:
Você já leu algum texto e não conseguiu entender o que o autor quis expressar? Isso acontece quando as construções das orações são inadequadas.
Para escrever um texto claro é necessário que as ideias expressas por meio dele sejam inteligíveis. Para isso, primeiramente você deve definir os objetivos da sua produção textual e quem será seu interlocutor, pois você precisa adequar seu texto ao leitor a quem você destina sua comunicação.
Depois de escrever, revise bem o seu texto, pois existem alguns tipos de erros que são muito comuns na escrita e que afetam a clareza textual. Listamos alguns deles aqui para você!
Ambiguidade: é quando uma palavra, uma pontuação inapropriada ou uma má construção textual gera mais de uma interpretação. Quando a ambiguidade é involuntária afeta a clareza do texto.
Cuidado com:
- Os pronomes possessivos
Ana preparou os quadros com Maria e fez sua apresentação.
De quem é a apresentação?
Ambas fizeram a apresentação? Ana fez a apresentação dela ou Maria fez a apresentação dela?
- Pronomes relativos
Fomos ao parque e a feira cuja organização é maravilhosa.
Quem tem uma organização maravilhosa?
- Sentido de agente e paciente
A recepção dos pais foi no saguão principal.
A recepção foi oferecida aos pais ou foi oferecida pelos pais?
- Confusão entre o “que” conjunção integrante e o “que” conjunção
O professor falou com o aluno que era africano.
Quem era africano? O professor disse que era africano ao aluno ou o professor falou com o aluno africano?
- Formas nominais
O diretor viu o aluno escondido chegando atrasado.
Quem chegou atrasado? O diretor, ao chegar atrasado, viu o aluno escondido ou o diretor viu o aluno que se escondia chegar atrasado?
Redundância: é quando o uso de repetições de algum conceito, ideia ou palavra, não é necessário e seu uso afeta a clareza do texto.
Cuidado com:
- Palavras muito similares e idênticas
A população exige que sejam tomadas atitudes, atitudes de responsabilidade exige a população.
- Repetições exageradas de algum elemento
O professor apresentou seu projeto, porém o professor não esclareceu seus objetivos e os planos de ações do professor não foram aceitos.
COESÃO:
Às vezes podemos encontrar textos que parecem uma colcha de retalhos, suas partes não se conectam bem. Um texto coeso precisa ter uma boa articulação entre suas palavras, orações e parágrafos. Existem elementos coesivos que nos ajudam a esclarecer a conexão entre as idéias. Alguns deles são as conjunções, as preposições, os pronomes e os advérbios. Revise a função de cada um destes elementos no seu texto.
Exemplo de conjunções:
Causa e consequência
por isso, pois, porque, como, porquanto, já que, visto que, desde que
Contraste e oposição
mas, contudo, embora, porém, todavia, contudo, senão, entretanto, não obstante
Adição e continuação
além disso , também, nem, e, mas ainda, mas também, como também
Conformidade, semelhança e comparação
consoante, segundo, conforme, bem como, assim como
Prioridade e relevância
principalmente, sobretudo
Esclarecimento
ou seja, por exemplo
Conclusão
dessa forma, portanto, logo, assim, por conseguinte
COERÊNCIA:
Um texto coerente mantém uma harmonia e organização em seu corpo como um todo. É necessário que o seu conteúdo esteja estruturado em uma sequência de ideias que conversem e mantenham uma coerência. Revise a relação das ideias de seu texto e suas partes. Por exemplo, em um texto dissertativo, revise a relação entre a introdução, os argumentos e a conclusão.
Esperamos que nossas dicas sejam úteis para você!
Logo abaixo, a modo de exemplo, postaremos uma redação muito clara, coerente e coesa de um aluno do nosso curso de nível 2, Victor Fajardo. Este texto é uma produção textual livre de Victor, que gentilmente nos foi enviada por sua professora. Trata-se de uma narrativa sobre uma experiência romântica interlinguística durante sua adolescência na cidade de Rivera.
QUANDO EU MORAVA EM RIVERA
Quando eu tinha 15 ou 16 anos, morava em Rivera, cidade pequena do Uruguai na fronteira com o Brasil. Do lado brasileiro, estava Santana do Livramento e a fronteira era delimitada apenas por uma rua e um longo parque. Naquela época, a princípios dos anos 60, Rivera era uma cidade urbanisticamente e culturalmente mais avançada que Santana, sumida no sul da imensidão do Brasil.
A rua principal de Rivera, a Sarandi, tinha uma continuação quase natural com a Rua dos Andradas, a principal de Livramento.
Rivera tinha três cinemas e Livramento tinha dois.
A programação do maior cinema de Rivera estava sempre atualizada e era a mesma que a da capital do Uruguai. O cinema de Livramento trazia filmes de segunda ou terceira categoria, sempre de heróis de muita força física e decorados de papelão.
Muitas meninas adolescentes da classe média de Livramento vinham ao cinema Grand Rex de Rivera. Elas vinham aos domingos à “Matinée”, palavra francesa que tem dois sentidos bem diferentes. Por um lado significa manhã, e por outro, função da tarde de qualquer espetáculo, em contraposição a “Soirée”, evento noturno. Ou seja, a palavra manhã para designar algo que acontece à tarde.
Na matinê do cinema Grand Rex, passavam três filmes, usualmente um de guerra, um de amor, e finalmente um de cowboy, com intervalo de descanso e consumição de pipocas, cachorros-quentes e o que se pudesse consumir.
Esses intervalos eram a oportunidade para namorar. Mas um namoro rudimentar, de olhar e ser visto pelas adolescentes “estrangeiras”.
Aproximar-se para falar era um risco, já que não tínhamos com elas nenhuma relação de estudos, de vizinhança ou amizade, que contrariamente, tínhamos com algumas garotas uruguaias.
Fazia muitos domingos que eu olhava uma garota muito branca e loura, alta para sua idade. Sempre pensei que tinha escolhido uma garota alemã e não uma brasileira. Mas eu gostava dela e, como ela correspondia aos olhares, só faltava agir.
Naquele domingo, os olhares do intervalo tornaram-se peremptórios, e na saída da matinê eu esperei que ela passasse com suas amigas, caminhando em direção a Santana. Ela não olhou, mas percebeu que eu começava a caminhar a uma distância prudencial, seguindo-as. Isso era um comportamento quase infantil, mas era o “modus operandi” que a mentalidade provinciana admitia nessas situações, ou pelo menos não condenava.
Elas eram duas ou três garotas, e o procedimento consistia em esperar a separação do grupo para abordar a lourinha.
Passamos da Sarandi para a Andradas e elas seguiam juntas. Duzentos metros mais adiante estava o semáforo da Avenida Tamandaré (em Rivera ainda não tínhamos nenhum) que era o meu limite de penetração no território santanense.
Então, superando a timidez e o medo, me aproximei do grupo. Ainda tive a sorte de que ela não caminhava no meio das outras duas. Cheguei ao seu lado e falei: “Puedo acompañarte hasta tu casa?”
Ela não ficou surpresa, me olhou com calma em seus olhos azuis e me disse: “Pois não”
Com toda a torpeza do mundo eu lhe disse, me desculpe então, dei meia volta e fui embora.
Depois tive toda a vida para lamentar que meu “portunhol” fronteiriço não tenha sido suficiente para entender um amável e cúmplice SIM.